terça-feira, 24 de abril de 2007

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Fala de Zaratustra aos homens


(...)Eu só amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque são esses os que atravessam de um para o outro lado
Amo os grandes desdenhosos, porque são os grandes adoradores, as setas do desejo ansiosas pela outra margem
Amo os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para morrer e oferecer-se em sacrifício, mas se sacrificam pela terra, para que a terra pertença um dia ao além-do-homem
Amo o que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que um dia viva o além-do-homem, porque assim quer o seu acabamento
Amo o que ama a sua virtude, porque a virtude é vontade de extinção e uma seta do desejo
Amo o que não reserva para si uma gota do seu espírito, mas que quer ser inteiramente o espírito de sua virtude, porque assim atravessa a ponte como espírito
Amo o que faz da sua virtude a sua tendência e o seu destino, pois assim, por sua virtude, quererá viver ainda e deixar de viver
Amo o que não quer ter demasiadas virtudes. Uma virtude é mais virtude do que duas, porque é mais um nó a que se aferra o destino
Amo o que prodigaliza sua alma, o que não quer receber agradecimentos nem restitue,porque dá sempre e não quer se preservar
Amo o que se envergonha de ver cair o dado a seu favor e que pergunta ao ver tal: "Serei um jogador fraudulento?" porque quer submergir-se
Amo o que solta palavras de ouro perante as suas obras e cumpre sempre com usura o que promete, porque quer perecer
Amo o que justifica os vindouros e redime os passados, porque quer que o combatam os presentes
Amo aquele cuja alma é profunda, mesmo na ferida, pois a cólera de seu Deus o confundirá
Amo aquele cuja alma é profunda,mesmo na ferida, e ao que pode aniquilar um leve acidente, porque assim de bom grado passará a ponte
Amo aquele cuja alma transborda, a ponto de se esquecer de si mesmo e quanto esteja nele, porque assim todas as coisas se farão para sua ruína
Amo o que tem o espírito e o coração livres, porque assim a sua cabeça apenas serve de entranhas ao seu coração, mas o seu coração o leva a sucumbir(...)